Izamara Luana

O que fazemos quando não há mais nada a ser feito?


O que fazemos quando não há mais nada a ser feito?

Ouvimos com muita frequência essa frase “a equipe do hospital falou que não tem mais nada para fazer” e que não é bom ouvir em nenhuma circunstância, pois quando alguém querido adoece, queremos sempre a cura dessa pessoa. Nem sempre é fácil vivenciar o processo de doença. A rotina de um hospital é cansativa, medicamentos a cada hora e, apesar dos tratamentos médicos estarem sempre visando o aumento da saúde, as vezes causa muito sofrimento para o paciente e sua família. Você já deve ter vivenciado alguma situação assim. E posso te afirmar que nem sempre o profissional da saúde consegue a cura, mas sempre há algo para fazer. 

Algumas doenças são agressivas e dependendo do estilo de vida que o paciente levava, a cura é difícil e garante que o paciente não tenha muito tempo de vida. O doente crônico muda toda a rotina da família também, envolvendo todas as pessoas de seu convívio nesse processo da doença. Além disse, passa a precisar de muitos cuidados que antes não fazia parte da rotina, como ajuda para realizar higiene intima, ajuda na alimentação. Quem está preparado para trocar uma fralda ou dar banho em um adulto acamado?

Além de cuidados com a higiene, alimentação, troca de curativos e passeios, o paciente em fase terminal de alguma doença também precisa de alivio de suas dores. É nesse momento que entra em cena os Cuidados Paliativos. Esse termo ainda não é tão conhecido, e acredite que ainda tem profissionais da saúde que não sabem o que é. O cuidado paliativo entra em cena quando o profissional médico diz a famosa frase citada no tema desta coluna “infelizmente não temos mais nada para fazer”. Mas temos sim! Podemos não ter a cura para a doença, mas podemos aliviar bastante os sofrimentos que esta causam, fazendo com o que paciente viva bem até o ultimo dia de sua vida. 

Tem uma médica que eu gosto bastante dos vídeos e textos que ela publica. E em uma de suas entrevistas, Dra Ana Claudia fala que “Eu trabalho com pessoas gravemente doentes que quando chegam aos meus cuidados esgotaram todas as possibilidades de cura ou controle de suas doenças. Isso significa que meu trabalho como médica se concentra em aliviar o sofrimento que a natureza da doença vem trazendo. E isso também significa que essas pessoas têm muito pouco tempo de vida. Quem está morrendo não tem tempo pra desperdiçar com quem não sabe o valor que o tempo tem e eu me dedico muito a respeitar isso. Mas antes de você se assustar com essa realidade, permita-me esclarecer que temos todos nós essa possibilidade de encontro com a morte, mais cedo ou mais tarde. Quando nos deparamos com essa verdade, sobe ao coração um esfriamento, um estranhamento.”

Lidar com o fim da vida não é tão fácil quanto escrever essa minha coluna. Requer maturidade espiritual, e aqui não me refiro a determinada religião, e sim no que você acredita. Reconhecer que a vida tem um fim é necessário para saber com que qualidade estamos vivendo. E isso serve principalmente para os profissionais da saúde. Sempre há um cuidado a ser prestado ao paciente. O alivio de uma dor, fazer companhia, conversar sobre as vontades do paciente e o que deixa mais feliz, oferecer conforto. Enfim, há uma infinidade de coisas que podem ser feitas. E tudo isso engloba os cuidados paliativos. Muito além de ofertar medicamentos, é ofertar atenção e zelo, demonstrando que a vida daquele paciente é importante sim. 

Existem conceitos como a ortotanásia, distanásia e eutanásia, que devem ser claros e são frequentemente associados aos cuidados paliativos. A morte digna está associada ao termo ortotanásia, que significa boa morte ou morte correta. Seria a morte no tempo que ela tem que acontecer, sem alterar o processo natural nem apressar ou retardar a morte. Diferentemente disso, a distanásia tem a proposta de prolongar a vida a qualquer custo, ou seja, usar os recursos disponíveis independentemente de a pessoa ter chances de melhora. O objetivo é adiar a morte a qualquer custo. Já a eutanásia é o ato de tirar a vida, o termo significa morte sem dor ou sem sofrimento desnecessário.

No cuidado paliativo, os cuidados são oferecidos para o paciente e sua família no momento em que o médico assistente identifica que não existem mais possibilidades da doença ser curada. Todos os envolvidos nesse processo de adoecimento e terminalidade devem ser acolhidos e contemplados pelos Cuidados Paliativos. 

Enfim, enfrentar a terminalidade da vida é importante, pois é um momento único, você não morrerá duas vezes. E sempre quando alguém falar a velha frase que não existe nada a ser feito por alguém, você vai lembrar dessa coluna e de tudo que foi escrito. Sempre há algo a ser curado e nem sempre isso quer dizer a doença física. 

Termino aqui com um outro trecho da dra Ana Claudia, que diz: “Quando morre uma pessoa amada e importante, é como se fôssemos levados até a entrada de uma caverna. No dia da morte entramos na caverna e a saída não é pela mesma abertura por onde entramos, pois não encontraremos a mesma vida que tínhamos antes. A vida que será conhecida a partir da perda nunca será a mesma de quando a pessoa amada estava viva. Para sair dessa caverna do luto é preciso cavar a própria saída.”

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