Há uma carência enorme de estudos econômicos e do seu dia a dia na nossa cidade. Cada vez mais, nós, que estudamos economia, nos deparamos com situações, sejam elas políticas ou empresariais, que nos fazem entender que as pessoas ignoram as teorias econômicas. E o resultado disso não é satisfatório, acarreta em prejuízos, em qualquer segmento que seja.
Esta será minha coluna no portal Mossoró Notícias, onde iremos abordar notícias cotidianas e que impactam, positivamente ou negativamente, a vida das pessoas e dos cidadãos mossoroenses. Vamos falar de economia, a população da cidade, do estado e do país, precisa entender o mínimo sobre teorias econômicas.
Meu nome é Vinícius Salgado, tenho 23 anos e sou acadêmico do 8° período do curso de economia, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Com muito prazer, listaremos as 3 coisas mais importantes que todo mossoroense precisa entender sobre economia.
1 – Empresários: abusem do planejamento e do estudo de mercado.
Está cada vez mais comum em nossa cidade, empresas com potencial de crescimento, fecharem as portas por falta de planejamento. O estudo de mercado é uma forma fácil e eficaz de mensurar os ganhos e custos. Muitos empresários ignoram isso por achar que sabem demais ou apenas por ignorar mesmo, achando que não tem fundamento e embasamento teórico.
O estudo de mercado é um instrumento que permite ao empresário uma garantia de viabilidade econômica e desenvolvimento do seu empreendimento. Ele é o ponto de partida para a criação de projetos e estratégias, oferecendo uma avaliação sobre a possibilidade ou não de um negócio ser eficaz. Pode ser aplicado tanto na esfera privada, como na pública.
Recentemente, um assunto estava na boca do povo, os preços de um evento com conceito Mix. Desde o início me perguntei se haveria uma viabilidade econômica de tal evento, que englobaria diversos estilos musicais e que não agradaria a todos os públicos.
Não foi feito um estudo para a realização, não se sabia o público alvo, não se tinha ideia de quanto a população estava disposta a pagar por tal evento, não tinha a noção se o público iria abraçar esse conceito, ultrapassado, de festival Mix. Quiseram comparar com outros festivais renomados, como Garota VIP ou Villa Mix. Porém, não mensuraram que o público alvo de tais eventos, por exemplo, é homogêneo. O pessoal abraça estilos de músicas atuais e os considerados “antigos” não se interessam pelo evento.
A prova disso foi o cancelamento do Festival Mix, quiseram englobar, em uma festa só, públicos dos mais variados segmentos. Pop, pop rock, forró, sertanejo, axé e swingueira, eram esses seis os tipos de músicas, seis públicos diferentes para atingir. E o mais importante: enquanto um estilo agrada a uns, desagrada os outros. Talvez esse tenha sido o maior problema do evento.
Pessoal falou muito do preço, porém, quando o evento é planejado e agrada o público, ele “se paga”. Nas redes sociais, os defensores do evento criticavam quem lamentava sobre os altos preços do festival e comparavam com o Garota Vip Natal, que ocorreu no dia 05 de agosto. A questão do “o evento se paga” fica evidenciada aí, o Garota Vip foi um sucesso, mais de 50 mil pessoas lotaram a arena das dunas, enquanto o Mossoró Mix foi cancelado por “falta de demanda”. O que eu costumo chamar de falta de planejamento.
A primeira, das três lições que passaremos aqui, é esta. Temos provas suficientes para perceber que um empreendimento, um evento, ou qualquer coisa que seja, sem planejamento, não funciona. Caso não haja planejamento, vai na sorte, e nos dias de hoje, confiar na sorte, é tiro no pé.
2 – Classe política: não proíbam a livre iniciativa.
É decorrente de governos anteriores, taxação ou proibição da livre iniciativa. Mossoró dispõe de praças que se tornaram oportunidade de comércio para algumas pessoas, gera renda para os que, às vezes, se veem sem saída. No governo anterior, surgiu o caso do rapaz que vendia tapetes de poltronas na praça do Rotary, localizada na Nova Betânia, bairro nobre da cidade. Alegaram “poluição visual”, era feio trabalhar e ganhar dinheiro honestamente. Outras pessoas praticam da mesma iniciativa no centro da cidade e ninguém se manifestava. Apenas por ser em um bairro nobre, que chamou atenção do público.
Atualmente, um caso que gerou polêmica, foi a retirada dos ambulantes que ofereciam o serviço de lazer para crianças na praça do teatro, as famosas “motinhas” não podem mais ser opção de comércio naquele local. A justificativa da prefeitura foi que estava causando danos ao piso, contrariamente, três dias depois, colocou doze viaturas da guarda municipal para uma “apresentação” ao público.
Infelizmente, grande parte da população, não tem discernimento para entender que aquele “ganha pão” das pessoas, é de suma importância para a economia. A livre iniciativa de criar algo, uma oportunidade de negócios, gera o que chamo de bola de neve positiva. Os microempresários conseguem sua renda, essa renda é revertida em consumo, poupança, investimento; e com isso há um leque de possibilidades de outros novos negócios que estão para surgir. Sem falar na questão humana também, não há nada de errado trabalhar e ganhar dinheiro honestamente.
Um caso que me chamou atenção, quando um empresário do ramo alimentício estava reclamando dos “food trucks” espalhados pela cidade, sem pagar impostos ou qualquer tipo de tributo, utilizando espaços públicos. Dei-lhe a sugestão de investir também na inovação e abrir o seu próprio food truck, sua empresa teria maior chance de dar certo, por já ter um nome forte no mercado.
Ele apenas ignorou a minha sugestão e achou que eu estava de chacota. Resultado disso foi que a empresa dele fechou as portas e os food trucks, que inovaram não só no ambiente, como nos cardápios etc, continuam e esbanjam sucesso.
3 – O ser humano reage à incentivos
É muito comum ver as pessoas se lamentarem por não terem conseguido algo ou por seu tipo de negócio não ter dado certo. Mais comum ainda são os políticos reclamarem da posição da população e não aceitarem a democracia, a velha história de que só há democracia quando lhe convém.
Neste sentido, é necessário entender que o ser humano reage à incentivos. Uma teoria que evidencia isso é a teoria econômica do crime, proposta por Gary Becker em 1968. Becker publicou o artigo intitulado “Crime and Punishment: An Economic approach” (Crime e Punição: uma abordagem econômica, em tradução livre), publicado no Journal of Political Economy, por meio do qual fez uso do raciocínio econômico para explicar as variáveis consideradas previamente à decisão de praticar condutas penalmente ilícitas, decisão essa tomada por indivíduos racionais.
O indivíduo, que reage de forma racional, avalia o custo de oportunidade de se cometer um crime, ou seja, qual a possibilidade dele pagar por aquele crime, ou sofrer consequências ruins por aquele crime. Aí onde entra a discussão sobre o estatuto do desarmamento, onde o argumento mais forte, é de que os criminosos são acostumados com a covardia e sempre estão por cima por possuírem armas, enquanto os cidadãos de bem estão indefesos. Se os cidadãos de bem possuíssem armas, qual a probabilidade de um indivíduo cometer um crime e sofrer consequências? Esse será o tema do nosso próximo post.
Levando para o lado comercial, é necessário entender as preferências do consumidor sobre tal produto. Ou melhor, quanto ele está disposto a pagar para adquirir tal coisa, dentro da sua restrição orçamentária. É aí onde entra o fenômeno da “promoção”. É um incentivo e tanto para quem quer iniciar ou melhorar as vendas dos seus negócios.
Por quê datas comemorativas costumam atrair clientes? A economia proporciona isso. O ato de dar e ganhar presente aquece o mercado, que por sua vez tenta “se aproveitar” da situação. Muitos falam da farsa que é o “black Friday”, porém, mesmo com o país em crise e com as vendas caindo, o evento alcançou sucesso nos últimos anos, é o que aponta o insight do google.
O Google divulgou uma pesquisa sobre o comportamento do consumidor brasileiro na Black Friday, encomendada pela empresa e realizada pela Provokers, que ouviu quase 800 brasileiros, de 18 a 54 anos, das classes A, B e C, nas cinco regiões do país, durante o mês de agosto.
O gasto médio do consumidor em 2015 foi de R$ 1.098, o dobro das outras datas sazonais. Quase um quarto dos compradores (23%) teve um gasto médio de R$ 3.041? a maioria (54%) gastou R$ 688,70? e 23% gastou menos de R$ 117,70.
Uma prova de que o ser humano, no caso, o consumidor, reage aos incentivos que os propõe. O black friday se torna um sucesso, mesmo em épocas obscuras.
A economia está ligada em tudo, principalmente, no nosso cotidiano. Neste espaço, traremos notícias, estudos e temas polêmicos com uma abordagem mais comum, onde as pessoas possam ler e interagir conosco e com a nossa visão. Semanalmente, sempre às segundas feiras, estaremos publicando nesta coluna para nossos leitores. Inclusive, aceito sugestões sobre temas que vocês tenham curiosidade de conhecer.
Com prazer, Vinícius!